Nascido em 11 de Março de 1916 em Morrinhos, Goiás, o pequeno Moacir, que perdera a mãe muito cedo, desde criança acompanhava seu pai que trabalhava nos colégios e muitas vezes tinha que ser transferido de um lugar para o outro. Foi inicialmente para Franca onde o clã dos Nicácio estavam instalados e que deixaram grande contribuição para a mesma, sendo o principal marco ter levado água para cidade de Franca , missão na época de difícil operação e realização. Em seguida Moacir teria mudado para o Estado do Rio de Janeiro, Petrópolis e depois para a cidade do Rio, em Santa Teresa. Moacir mudou várias vezes de um colégio para outro. Algumas vezes pelo motivo de seu pai ter que se transferir para outros colégios , e outras, por ser muito levado, terem convidado-o a se retirar.

De situação financeira sempre crítica, Moacir quase que passou sua infância dentro dos colégios e quando orientado a fazer o pré-médico Moacir fazia bicos para poder sobreviver vendendo marolas, e outras especiarias que se vendem nas praias. Comprava por 10 vendia por 20. Aos poucos Moacir pegava o jeitinho carioca de ser.

Quando estudava na Faculdade de medicina, alojava-se em um barracão nos fundos da faculdade. No velho e famoso Cassino da Urca tinha entrada garantida e nunca pagou uma só vez para entrar , pois conhecia os leões de chácara, que eram os amigos da praia que ficava ao lado de sua faculdade.

Moacir conhecia quase toda a classe artística da época como Carmem Miranda, Noel Rosa, estudou com Dick Farney, e tantos outros famosos da era do rádio. Só mesmo não seguiu a carreira porque não tinha habilidades para cantar ; Tentou aprender violão, pandeiro, mas também fracassou . Contudo nunca perdeu o seu espírito festeiro conhecido por todos em Quatá.

Terminado a faculdade foi para São Paulo onde trabalhou com notáveis médicos da época e centros médicos famosos tendo a oportunidade de conhecer as tecnologias que na época começavam a aparecer. Trabalhou muito, fez de tudo no ramo médico e acabou se especializando em ortopedia.

Nesta época teria se transferido para o interior de São Paulo, Sorocaba, quando pronto para iniciar novos desafios, Moacir teria conversado com um detetive e nesta conversa Moacir mostrou interesse de se aventurar pela região de Presidente Prudente onde já conhecia. Este detetive indicou para ele uma cidadezinha pequenina onde estariam precisando de um médico.

- Tem luz lá ? - perguntou Dr. Moacir

- Não é pavimentada ainda, mas luz já tem , respondeu o detetive.

Moacir pegou o trem , foi até Presidente Prudente onde se apresentou e depois para Quatá. Chegando em Quatá, ( por indicação do proprietário do Hotel Patrão - E.Patrão que tinha deixado Quatá para viver em P.Prudente ) ficou hospedado no Hotel Patrão sem ter qualquer dinheiro no bolso, deixando para trás também a divida do hotel da outra cidade para pagar. Moacir na época tinha um dinheiro do estado para receber que estava duro para sair.

No seu primeiro dia de trabalho, foi para o posto de saúde, uma casa de madeira sem qualquer recurso, que ficava onde é hoje a casa do Lily Dalla Pria, perto do antigo e velho posto Texaco, na rua do Banespa, percebendo que tinha muito o que fazer .

Dali por diante, desde o dia que chegou em Julho de 1948, Dr. Moacir passou a dedicar se integralmente para o povo de Quatá. Apesar de Quatá já ter alguns médicos, Dr. Moacir foi o médico dos pobres. Homem elétrico, super ativo, acordava cedo, às 5 horas já podiam encontrá-lo no bar do Manoel Camponês tomando seu cafezinho da manhã junto com amigos. Nunca bebeu mas fumava exageradamente. Quem já não ouviu falar das consultas do Dr. Moacir na esquina, e sua famosa receita no papel de pão?

Passou 03 anos e Dr. Moacir já começava a trabalhar no projeto de construir um hospital, mesmo sem ter dinheiro algum. Muitas vezes ajudado pelo patrões de Santa Lina como Sr. Rodolpho Sebastião Giorgi , e outras vezes pelos portugueses como a família Joaquim Marques e outros , e pagou tudo trabalhando incansavelmente 24 horas por dia na Santa Lina , nas fazendas, na cidade, etc , e nos momentos difíceis foi aconselhado muitas vezes para não desistir de seu sonho pelo saudoso padre Alfeu.

Moacir concretizou seu sonho construindo o hospital e em pouco tempo já estava operando e começou a ficar muito famoso na região de Assis, Paraguaçu, Rancharia até Porecatu no Paraná.

Dr. Moacir soube ganhar sua vida e ao mesmo tempo ajudar os pobres , e como ajudou ! Foi coroado durante 25 anos sendo reeleito como vereador de Quatá, quando entrou na política apoiando Sífrido Averoldi, o Bidi. Na política sempre colaborou e orgulhava se por NUNCA ter ofendido parceiros e opositores políticos, pois sabia que antes de tudo eram cidadãos Quataenses e que continuariam convivendo na mesma cidade.

Festeiro como sempre, estava sempre envolvido em festas de carnaval , fantasias, escola de samba, frevo, etc. Onde ele encontrava tanta energia ?

Casado com Esmeralda Gagliardi, conceituada professora do Grupo Escolar Luiz Gagliardi , teve dois filhos Dr. Marco Antônio Nicácio e Marco Aurélio Nicácio, sendo o primeiro presidente da ACQUA , fundação para preservação histórica de Quatá e médico, tal qual seu pai, especializado em ortopedia.

É duro dizer , e este não é um protesto político e sim um relato da realidade, nunca Quatá voltou a ter uma era de assistência a saúde como na época do Dr. Moacir.

Hoje o hospital erguido por Dr. Moacir esta fechado. Depois de 50 anos, é difícil de acreditar que homens de bem e inteligentes não conseguiram nada além de implementar um ambulatório médico.

Dr. Moacir faleceu aos 73 anos derrotado pelos efeitos do cigarro.

Se Quatá teve um herói este herói chama-se Dr. Moacir Nicácio, e como todos sabem ...

..... o herói é um imortal.